Attraversiamo


Foi como um pensamento que repetidamente me atraía para uma resposta. Uma pergunta impregnada de significados e sutilezas que saltavam diante da minha ignorância e ansiedade: "O que queres que Eu te faça?"


Bastou uma pergunta para eu refletir se estava ouvindo Deus ou apenas minhas preocupações. "O que queres que Eu te faça?" Essa pergunta ecoou no meu deficiente sono. E não havia outra saída senão responder e essa resposta revelou o que havia no meu coração. A vergonha de suprir e acalmar as grandes ondas de ansiedade sufocou a verdade que bem no fundo eu sabia ser a resposta. 


Eu devo falar o que penso ou o que você quer ouvir? O que estaria me esperando após uma resposta? A essa altura, meus pensamentos se tornam constrangidos, e se encolhem na sombra da incerteza. Eu conheço essa voz, essa voz não mente. "O que queres que Eu te faça?" Reconheci que Jesus estava me perguntando não por que Ele não sabia, mas por que eu não sabia. Eu estava me escondendo na crença de que Ele sabe do eu preciso e isso basta, e não estava pedindo, ou tomando consciência do que Ele atraía para minhas orações. 


 "O que queres que Eu te faça?" Significava: Filha, você sabe o que pedir e por quê? Você conhece o meu coração sobre você e sobre o que você pede? Porque se você me perguntar, Eu falarei. No âmago eu sabia que o que eu precisava, e preciso, é conhecer mais Jesus. Conhecê-lo é o que nutre meu ser, tudo só existe para isso. Conhecê-lo e fazê-lo conhecido. 


Então eu não poderia fugir de reconhecer: Jesus provê de formas que eu não compreendo. A falta, a escassez, a aparente demora, isso também se torna provisão. Sim, posso orar e pedir, e acredite, eu peço. Porém, algo na pergunta de Jesus me constrangeu, pois foi revelado algo no meu coração que eu não percebi todo esse tempo. O que Deus quer para mim nesse tempo? Meu conforto não poderia me roubar de conhecer isso. Se em todo tempo, o que Ele tem falado é sobre permanecer e esperar, descansar e observar, então, eu posso, em paz, abraçar a dor de atravessar escassez e demora. Eu posso viver a momentânea incerteza com o coração eterno. Posso viver saudade e promessa com o mesmo olhar de gratidão. Sim, até aqui nos ajudou o Senhor. 



Eu acredito que esse sentimento agridoce é o que torna esse momento único. A linha que foi cruzada, onde não há volta e nem há antecipação, esse é o meio do caminho. E por mais que minha jornada de espremer limões tenha ensinado tanto, esse limão tem sabor de dejavú, mas agora aprendo a espremê-lo de uma forma diferente. Tem uma acidez nova e uma força diferente nas mãos que pressionam. Mais pressão, mais sabor e só um tolo jogaria fora uma fruta carregada de sabor. Assim, as pequenas pressões diárias se misturam ao pensamento de voltar ao começo e eu me educo em lidar com as distrações inofensivas. Uma poda por vez, uma decisão por vez, um milagre por vez. 


Enquanto tudo isso acontece na minha mente e coração, meus filhos crescem mais rápido do que eu poderia me preparar. E num piscar minha filha está quase do meu tamanho. E meu filho, por enquanto o menor, alcança lugares novos da casa, e isso leva minha mente para um novo nível de alerta, e tudo isso rodeado de caixas. A mudança nunca foi algo fácil, mas sempre é possível ser aperfeiçoada. Por isso, após mudar 2386482 vezes, as caixas se misturam à decoração e tudo que já está empacotado e esquecido começa a me fazer questionar se realmente eu preciso disso na minha vida. Uma grande peneira de valores e necessidades. A mudança pode também desenfrear uma onda emocional, por isso, ter foco é tão importante, até mesmo necessário. Do contrário, eu não saio das recordações e emoções envolvidas. 


Enquanto voltávamos da última viagem que fiz para São Paulo, uma das coisas que Deus me falou foi: "Vai ficar mais difícil, mas vai ser melhor". Bem, como algo pode ser mais difícil e, ao mesmo tempo, melhor? Esse poderia ser o nome do capítulo que estou vivendo: Mais difícil e melhor. Naquele momento eu não compreendi, mas a pressão, a incerteza e a necessidade tornam tudo mais difícil, MAS, a dependência em Deus, o aprendizado com o Espírito Santo e a intimidade com Jesus, tornam tudo melhor. 


Agora me atrevo escrever os sonhos e a esperança, abraçando o futuro enquanto os pés tocam o presente todos os dias. Basta esperar, basta descansar. Basta acreditar e repousar na imutável e infalível voz. Sim, esse é o momento, attraversiamo


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