Mudando orações

Desde que nos mudamos a palavra que não sai do meu vocabulário tem sido TRANSIÇÃO. Tudo parece uma grande, demorada, profunda e inquietante transição. Quase sempre acompanhada dos adjetivos que se aproximam das emoções que ela desperta. Nem sempre boas, porém necessárias. E o desconforto se mostrou a providência divina para reconhecer a mão de Deus nos esticando e moldando, não há espaço para folgas, algo muito parecido com uma panela de pressão. 

Chegamos aqui há quase três meses e muito já aconteceu, nossos filhos começaram numa escola nova, uma jornada que frutificou tanto. Uma despedida que me marcou profundamente, minha avó Rosa, foi para o céu, e agora descansa com o Pai. Algo que ainda processo com frequência. Então uma nova rotina, novos ares. Olhando para tudo que aconteceu, não pude negar, Deus está atraindo nossos corações para uma vida de oração ainda mais profunda, Ele está mudando nossas orações. E por mais que eu tentasse explicar o que aconteceu, não existe outra forma melhor de fazê-lo senão reconhecer que graça está sendo derramada sobre nós. Eu orava por educação para nossos filhos, Jesus respondeu dizendo que Ele tem CONHECIMENTO, eu oro por uma casa, Ele diz que tem HABITAÇÃO. A meu ver, o vocabulário também precisa ser mudado, isso começa nas orações e reverbera em todas as falas. 


Recentemente Jesus me perguntou como se parece enxergar acima das coisas dessa terra? Respondi que se parece quando enxergamos como as coisas são no céu. Ele replicou: "E como se parecem as coisas no céu?" Ah, parecem tão diferentes, sem as interferências e problemas mundanos, sem dúvidas e medo, sem ruídos, cheio de paz, cheio de gratidão, cheio do caráter de Deus. Não existem filtros criados pelos meus traumas impregnando as coisas, tudo é cura, tudo é pleno. Não há distância entre mim e Deus. Ele disse: "Então ore a partir dessa perspectiva, ore chamando essa realidade para se tornar a sua realidade."  


Cresci rodeada de pessoas com uma vida de oração, minha avó Rosa era uma dessas pessoas. Uma mulher que devotou a vida a Deus e ao próximo, e com frequência era a pessoa que inspirava com uma fé inabalável. E antes mesmo que eu soubesse orar, me ensinaram a orar como Jesus ensinou, o Pai Nosso. Na escola, era assim que orávamos muitas vezes nos começos dos cultos, e por muitos anos era algo apenas repetitivo para mim, mas essa prática pavimentou um caminho para minha mente trilhar e a partir dali viver algo mais pessoal no espírito. Se você procurar, vai ver que muito já foi estudado sobre a oração, sobre métodos, fórmulas, sobre o coração de quem ora, sobre como orar, como não orar. E nunca me considerei uma pessoa de vida de oração intensa, entenda, cresci orando o que parecia ser o esperado, o necessário para cumprir um protocolo com Deus. Isso foi mudando, ao passo que fui conhecendo Jesus pessoalmente, e nossa amizade não poderia depender de um protocolo, não, Ele é íntimo demais para isso. 


Mas hoje, enquanto trilhamos o caminho que nos foi proposto, observo o movimento que está acontecendo. Muitas coisas ainda nas caixas, ainda sem um lugar permanente, muitas coisas novas e adaptação, muito sendo processado no coração e criando novos caminhos na mente, muita mudança acontecendo, e não poderia ser diferente nas orações, sim, elas também precisam mudar, ser alinhadas, refinadas. Deus quer nos ensinar a orar. Ele quer nos ensinar a enxergar a partir da perspectiva do céu, e em oração isso acontece. Uma consciência é adquirida, novas palavras e posturas são tomadas, tudo pela oração. 


Quando era criança me falaram várias vezes que orar é conversar com Deus, e eu acredito nisso, mas também acredito que quando nos permitimos conversar com Deus, Ele permite que conversemos conosco também, muito do nosso coração é revelado na oração, não apenas para Deus, até por que Ele não precisa que você fale o que se passa dentro de você, pois Ele nos conhece melhor do que nós mesmos, mas, despidos diante Daquele que nos criou, nos conectamos com a criação perfeita Dele, com a natureza santa que Ele soprou em nós, assim uma realidade dos céus se torna possível e acessível. O poder da oração não consiste na repetição insistente ou palavras certas no momento certo, tão pouco está em achar que podemos manipular Deus para obtermos o que queremos, o poder da oração consiste em conhecer o Deus para o qual oramos.  


Sim, uma transição precisa acontecer, e não acho que será a última vez que acontecerá, pois Deus nos ama demais para deixar que continuemos do mesmo jeito, sempre há mais. Para ser experimentado, vivido, saboreado, sempre há mais de Deus, mas isso não acontece se nossas orações também não transacionam, como um processo oculto, íntimo, sacrificial. Minha esperança no meio do que vivemos não consiste em ter orações respondidas como eu espero, mas em ter um coração transformado e unido com Deus ao ponto de se Ele responder diferente do que minha humanidade espera, ainda assim, Ele continua sendo meu Senhor e amigo, que ainda assim, Ele tem meu coração. 


"Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor." 2 Coríntios 3:18


A última foto foi tirada enquanto minha avó orava por nós poucos dias antes da mudança. Ao final, ela orou o Pai Nosso, como sempre fazia. Que as orações incessantes e fervorosas semeadas durante toda uma vida continuem crescendo e frutificando. A saudade e gratidão se misturam, enfim, a filha está em casa.



Eu vó Rosa no meu aniversário de 2 anos

Eu e vó Rosa no seu aniversário de 90 anos


Comentários

Pedro Dias disse…
Minha esperança no meio do que vivemos não consiste em ter orações respondidas como eu espero, mas em ter um coração transformado e unido com Deus ao ponto de se Ele responder diferente do que minha humanidade espera, ainda assim, Ele continua sendo meu Senhor e amigo, que ainda assim, Ele tem meu coração.

Que texto lindo♥️

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