Propósito de uma vida ordinária

    Talvez aquilo que mais falamos e, ainda assim, mal compreendemos quando pensamos sobre jornada seja o propósito. E acabamos buscando aquilo que provavelmente não sabemos. Viver uma vida com propósito até virou título de best-seller, tema de cursos, vídeos, mensagens a perder de vista. E quanto mais se fala sobre isso, percebo que nos distanciamos do significado disso na vida humana. Propósito é o objetivo, a intenção; pode estar ligado à tomada de decisão e a mais uma centena de palavras. Mas meu propósito neste texto é refletir sobre um propósito em especial — "The" Propósito — e onde estão arraigados todos os demais objetivos e meios.

    Aprendemos que Deus é um amante de histórias e como Ele escolhe contar histórias que falam em camadas infinitas. Você pode ler milhares de vezes, mas aquilo que estava bem diante dos seus olhos apenas é revelado no momento em que deveria ser revelado, como novos olhos para um texto antigo. E revelação é outra palavra intrigante: como Deus escolhe se revelar, seja na palavra, na contemplação, numa conversa... Tenho amigos que recebem profunda revelação fazendo coisas ordinárias. Existe beleza nesse encontro "casual" com a divina revelação. É Deus querendo e buscando nos encontrar no nosso dia cheio e barulhento. Falando sempre, sim, acredito que Deus fala o tempo todo, basta ter ouvidos para ouvir. E muito do Seu propósito é revelado enquanto escutamos. Nisso, acredito, é onde falhamos: por não escutarmos a voz amável de um bom amigo. A fonte de todas as coisas tem poder e substância; d'Ele foram criadas todas as coisas e ainda são criadas até hoje. Compreender a importância de ouvir a voz de Deus pode nos levar a conhecer e viver os propósitos de uma vida que responde não apenas às nossas necessidades e vontades.

    Às vezes, dói perceber como os nossos propósitos estão distantes daquilo que deveríamos viver. Propósito e vida estão intimamente ligados; minhas escolhas, atitudes e motivações estão sendo moldadas a um propósito maior, mais elevado, regido por algo que olhos não podem ver, mas que é tão real quanto este ar que entra nestes pulmões. Por isso, muitas vezes, é assim que sentimos quando damos passos de fé em direção a algo novo e até absurdo, mas que faz total sentido quando visto com os olhos dos céus. Somos elevados, suspensos, despidos da gravidade mortal que insiste em nos prender neste tempo e na materialidade.

    E chegamos ao momento em que o propósito divino revelado na Voz gera fé e toma forma na vida que não se move ou vive baseada na realidade carnal. Essa é uma vida no espírito. Meu propósito é absorvido pelo propósito de Deus, e o Dele sobressai, o Dele brilha. Meu orgulho e teimosia são esmagados pela verdade: “Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do que os pensamentos de vocês” (Isaías 55:9). Porque ouvimos pouco, pouco sabemos, e até o que sabemos, não compreendemos. E podemos chamar isso de mistério, podemos chamar isso de vontade de Deus. Sim, essas palavras são verdadeiras, mas o ponto aqui é que, muitas vezes, estamos preguiçosos demais, alienados demais, ocupados demais, satisfeitos demais para dar qualquer passo. O propósito de Deus para a humanidade foi revelado na pessoa de Jesus, e tudo que Ele viveu e ensinou inaugura, revela e aponta para um reino. E isso é para agora, não apenas num apocalipse distante parecido com Mad Max. Paz, justiça e alegria são as palavras que descrevem esse reino.

    Quando refletimos de verdade sobre propósito de vida, corremos o risco de desfazer um monte de ideias geniais e lindos planos. Corremos o risco de nos depararmos com uma realidade nada agradável do nosso coração humano, mas nada disso assusta Jesus, nada disso O atrapalha. Por isso, se, enquanto você lia este texto, se perguntou se está vivendo o propósito da sua vida, pare de se perguntar isso. Não existe uma lista de propósitos que será conferida no final da sua vida, muito menos isso determinará se você vive ou viveu uma vida plena. Essas são réguas humanas e falhas. E, se você talvez tem essa imagem, talvez esteja buscando Deus como um chefe e não como um Pai. Minha sugestão é diferente: pergunte se você tem escutado a Voz de Jesus, se está cultivando e amando caminhar numa amizade profunda com o Criador. Ocupemo-nos em conhecê-Lo, em saber o que Ele pensa, e todo o resto virá disso. Posso dizer que, se nosso propósito é conhecê-Lo, isso deve nos ocupar profundamente.