Tudo novo e do mesmo

Eu teria milhares de coisas para contar nessa postagem. Sobre a terrinha, sobre o coração, e sobre um possível doador compatível que anda por aí sem saber que carrega uma preciosidade. Mas depois de escrever e reescrever as mesmas palavras, volto aqui pra tirar a poeira e dizer que sim, as coisas estão mudando. De uma forma inesperada. A mudança não era inesperada. Por que eu sabia que as coisas mudariam, mas a forma é mais surpreendente.
Pra quem nunca leu esse blog todo, até porque é muita coisa, pode imaginar que é obvio que a vida muda depois de um diagnóstico ruim. É óbvio que você vai repensar muita coisa, e mais óbvio é imaginar que você iria querer fazer tudo que sempre quis sem necessariamente achar que seu tempo está acabando. Pensar algo diferente disso parece piração. Mas vamos pirar um pouco. E deixar de achar que podemos escrever nossas histórias apenas com as nossas próprias mãos. Porque o homem é previsível, e limitado por motivos que encheriam uma lista de mil itens. Mas se existe um ser tão maravilhoso e amoroso, que me conhece tão profundamente e que nunca desejou algo diferente do melhor, é nele que eu quero confiar. E diferente de todas as outras coisas, essa é única que nunca vai mudar, o seu amor. O primeiro, pelo qual se criou tudo que achamos ser mais belo. Não consigo e nem quero imaginar uma vida que fuja desse amor.



Por isso caríssimos leitores, hoje essa postagem não vai contar os detalhes da ida a terrinha. Ela não vai contar como Miguelito está grande, sobre como estou me apaixonando e sobre como minha cabeça fica a mil com a possibilidade de um terceiro transplante. Porque hoje eu tinha que falar de como algo maior move minha vida, da forma mais louca e apaixonante.

...


Sinto o ar entrar nos pulmões, dilatando, enchendo, esvaziando. O sangue quente corre sob a pele. Sinto o vento forte que levanta o cabelo que já está bagunçado. E prefiro que ele fique bagunçado. Sinto a areia, o chão, o atrito e até uma dorzinha quando piso numa pedrinha mais pontuda. As mãos deslizam movendo a  água num balé improvisado. Me sinto parte do mar. Não canso de pensar... como é bom estar viva, e viver. Aproveitar o que a dor pode ensinar, abraçar em pensamento, tocar. Comer, e bem. Se  estressar, achar que é o pior dia minha vida e acordar no dia seguinte achando que muito daquilo era drama. Poder rir das coisas mais terríveis e fazer desenhos toscos sobre elas. E perceber o amor que move tudo isso. As coisas que minha mente não administra, o coração carrega e as vezes ele parece pesado, é verdade, mas essa história é sobre mudança, sobre renascimento e qualquer parte que foge disso se chama fase. E como as fases acabam, espero o fim da minha. Com três transplantes ou não, continuo a esperar... e até lá eu me reciclo, renovo e me monto. Olha pra mim, tô pronta pra outra.

"Bem sei que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido." Jó 42.2



Olha quem não pode ver um computador

A cada volta para Olinda eu me sinto mais velha, quase inevitável:)

Comentários

Anônimo disse…
Larinha,te saúdo com a PAZ DO SENHOR!.E a primeira vez que consigo fazer um comentário antes de Seu Heino mas escrevo para renovar meu amor e apreço e dizer o quanto foi bom ter vc no Recife e ouvir sobre sua vivência nos caminhos da espiritualidade, realmente benção dos céus. Gostaria de saber se Dr Celso estar a falar de um novo transplante, de todo modo, estamos sempre em oração e certos de que todas as decisões vem do alto! Receba um grande bjo e o amor de Carol, friends forever
Teresa Morgado disse…
Lari, não me conhece! Sou filha, e sou mãe (da Marta) e compreendo-a e admiro-a por toda a sua força!Assim daqui de muito longe ou perto(não sei bem)envio-lhe, com a brisa do vento, por cima do Atlântico, os desejos de que continue com o seu espírito aberto às maravilhas do Universo,que começa bem ao nosso lado...Quanto não vale a sua consciente passagem por este mundo, comparada com a de algumas pessoas que nem se deram conta que viveram!!!Existiram somente. QUE OS RAIOS DE SOL BRILHEM para a Lari e lhe tragam esperança, fé, alegria e que seja abençoada pela evolução positiva desta fase da sua vida. Aceite um beijo de grande admiração e união da Teresa Morgado
Anônimo disse…
Linda Lari, o seu brilho resplandece por onde quer que você passe. E todos que o vêem glorificam a Ele. Foi assim na terrinha, em cada canto onde passou. Eu pude ver. É assim por aí e assim será em cada canto que ainda passará... Eu posso ver. "Um chamado... um propósito" e tudo, tudo continua a concorrer para o seu bem!...
Katia Meira
Igor disse…
Obrigado por me fazer chorar.
Rafael Martins disse…
Um beijo enorme! Estou sempre vindo aqui! Vamos nos fazendo companhia!
Rafael Martins disse…
Querida Lara, eu sinto que a vida (vida, vida mesmo, de verdade) não é anestesiada. Ela entra ferindo, doendo, machucando o corpo, a alma. E você prova que isso não é motivo para não viver. Essas dores dilatam os momentos de prazer, e a gente vivencia tudo de forma diferente. O vento da praia, a areia sob os pés, o mar, o amor pelas pessoas, a sensação de acordar no dia seguinte, de vencer, de não vencer, de ser tocado por uma mão suave, de receber um amigo, de olhar uma foto, de querer comer uma coisa diferente... tudo se torna uma experiência indescritível. Beijo.

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