E ela-sempre-vem-por-aqui

Ironicamente a sala de espera pode ser o lugar mais confortável para escrever. Companheira de estresse, neurose e por incontáveis vezes, sono. Hoje me sinto mais a vontade aqui do que em muitos lugares. De certa forma se tornou uma extensão do meu quarto. Lendo as postagens mais antigas, percebo as mudanças inevitáveis, fruto do calejar diário da ansiedade. Agora, as moças da portaria já sabem o número do meu RG, pelo menos quase todo, e moços da limpeza, coleta, transporte de material, segurança também já conhecem a-garota-que-vem-sempre-por-aqui. Mas a oncologia é um lugar diferente de qualquer outro. Lugar de pessoas que se encontram por meses, anos. Que falam das coisas da vida sem medo do que você vai pensar. Eles tem medo apenas do que podem ouvir (pelo menos esse o meu caso). Bravos que temem a perda das coisas simples, que já ouviram o pior e isso os fez valorizar o melhor. Ombros carregados, mas que conseguem falar do cabelo que está branco porque ainda não pode pintá-los. Ano passado li um livro cujo trecho contava sobre uma pessoa, psicóloga, ou algo parecido, que acompanhava casos de pessoas que tinham sofrido um trauma, que haviam passado por guerras e grandes desastres, e que até tinham perdido família. Mas que nas sessões de terapia falavam as coisas mais improváveis... sobre uma briga com o namorado, sobre uma garota pelo qual havia se apaixonado, que pensava em casar, e assim por diante. Por que o amor era algo que era importante naquele momento. Talvez por que era mais fácil lidar com problemas emocionais do que pensar na casa que perdeu, ou no emprego que não existia mais. De certa forma, pensar nessas coisas nos traz a sensação de pensar mais em nós mesmos. Da mesma forma, imagino que pensar nos pequenos prazeres da vida e no valor que tem traz um pouco da normalidade onde ela não existe há algum tempo.
Buscar normalidade onde ela não existe é uma forma fantasiosa de viver. Talvez sentada numa cadeira, com flores artificiais ao redor.

"Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-ei." Marcos 11.24




Comentários

disse…
Te adoro Lari.
bjos
Karla Meira disse…
Lari, penso hoje que "normal" é tudo aquilo que a gente se acostuma. Graças a Deus, os seres humanos são altamente adaptáveis, por pior que pareçam as circunstâncias. Entendo seu ponto de vista, eu, por exemplo, muitas vezes tento ser uma pessoa "normal" que deixou o "nordeste" e as "praias" só prá trabalhar aqui...pelo menos deixo por um momento que pensem isto de mim... é um exercício meio difícil de fazer, mas é cansativo e chato também "contar tudo" a todos os novos que conheço. Tento viver um dia por vez, ou uma hora por vez, sem querer ser dona do tempo,né? sem ansiedade, como Jesus amavelmente nos advertiu. BJX.
C@rin disse…
Oi, Lari!

É verdade... Muitas vezes a gente vira figurinha carimbada nos locais de tratamento... Mas faz parte do nosso aprendizado e olhar diferenciado para a vida e as pessoas. Eu, apesar de sempre ser solidária às pessoas em tratamento e àquelas portadoras de necessidades especiais, sempre preferi manter distância do universo dos cuidados à saúde, e com o linfoma mudei de lado, então, pode ser uma forma da vida me dizer que preciso me aproximar disso, fazer algo além de me sensibilizar, arregaçar as mangas e trabalhar pela melhoria dos atendimentos, contribuir com a ciência, a humanização ou sei lá que coisa.

Abraços e vamos em frente.

Carin
007 project disse…
Larissa, sou repórter da revista ISTOÉ. Queria entrevistá-la para uma matéria. Pode entrar em contato comigo? [rachelcosta@istoe.com.br]. Obrigada e abraços.
Lula disse…
Oi Lari olha eu aqui de novo,Já faz um tempinho que não apareço pra te mandar aqueles vessículos mais vou deixar um. Porque Deus é o que opera em você tanto o querer quanto o efetuar, segundo a sua boa vontade. Fil. 2:13
Anônimo disse…
Larissa, você é uma VITORIOSA! JESUS CRISTO está sempre ao seu lado!
Esse versículo "Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-ei." Marcos 11.24 foi uma das chaves pra minha CURA também! Beijos e força!
Cássia disse…
Li o blog da Larissa e achei muito criativo. Mesmo diante da dor ela se manteve sempre alegre. É uma bênção de Deus. Gostaria de receber notícias dela. Torço muito para que ela esteja bem.
Anônimo disse…
some assim não Lari!! Saudades de ti aqui...
Fernanda disse…
Quase todos os dias passo aqui para saber sobre uma certa menina que me deve uma camiseta quando voltar curada à terrinha.

Não some, não, menina. Sentimos sua falta.

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