Traumas e pneuzinhos
Venho tirar as teias de aranha e falar da vida. Os dias têm sido agitados. Pouco tempo para muita coisa e muita coisa para um ser muito desorganizado. Para quem naturalmente se dá bem com regras de horários, com prazos e coisas do gênero, isso pode parecer preguiça mesmo, mas pra mim é um parto. Horas certas para dormir e acordar não são tão legais quando meu corpo ainda não se acostumou com 6/7 horas de sono. Houve época em que dormia 14 horas... mas aí já é outra coisa. Sequer consigo subir a ladeira até o metrô. Imploro por uma carona pra não subir a bendita sob um sol terrível. Coisa de sedentário. Falando em sedentário... as horas de correria acabam me tirando as horas de academia que resultam numa vida meio sedentária. Esse fim-de-semana, fui provar uma roupa numa loja e me senti enorme. Então tomei a decisão mais sensata, que qualquer garota da minha idade tomaria: quero perder 3 kg em uma semana! É, eu sei que isso não vai acontecer... e qualquer medida para que isso se tornasse verdade seria muito drástica. Resta então tentar comer menos, andar mais e esperar que o mal humor passe.
Esses episódios de se-achar-gorda-e-desajeitada podem durar um tempo. Nunca tinha experimentado esses dias de amargura antes de ficar careca. Parece que alí foi apertado um botão que acionou a oscilação de humor, o espelho deformado e toda a chateação que envolve isso. Ninguém gosta de se sentir mal com a aparência. Muito mesmo se tiver coisas muito mais importantes para se preocupar. O que se diz é que um paciente se torna de certa forma... ou quase literalmente assexuado, e que por esse e outros motivos não deveria se preocupar com coisas tão fúteis como... cabelo, sobrancelhas... ou um seio. Ouvi muitas histórias que me chocaram, não só pela gravidade dos temas mas pela frieza de alguns profissionais e até acompanhantes ao pormenorizar a preocupação do doente com a aparência. Claro que, entre ficar curado e ter cabelo, ficar curado. Mas não se pode negar que nem todos levam numa boa essa idéia. Ele/ela não vai escolher ficar sem cabelo... serão empurrados para isso, por que esse é um dos preços que se paga. Vi mulheres mutiladas e totalmente desencanadas. Uma chegou e perguntou se eu tinha tirado os meus seios também. Me senti despeitada. Mas essa preocupação com o "parecer" em algum momento pode abalar mais profundamente e se tornar um problema maior do que a própria origem do problema.
E acho que é isso que desencadeou coisas que sinto hoje ainda. Quando falo que ainda me vejo como a garota careca que não conseguia se olhar no espelho, não minto. De certa forma ela ainda existe e sinceramente é algo que quero muito superar. E acredito que isso acontece com muitas pessoas que passam pela mesma situação. Afinal, vai-se a doença mas ficam as lembranças, fotos e, querendo ou não, os traumas.
Aprendi a amar os cabelo curtinho, mas chegou o tempo de sentir falta de ter cabelo para cutucar. Então deixa de ser aparência apenas. Não falo apenas de ver o cabalo bonito no espelho, mas de pegar uma mechinha de cabelo, dizer que é sua. Deixar o namorado fazer cafuné sem se preocupar se seu cabelo vai cair aos montes. Ter. Olhar, sentir e dizer que é meu. Meu cabelo. Meu seio. Meu braço.
Entendi que essa fase pode causar danos terríveis. Ao corpo, à mente, à alma. Meu corpo está curado, mas minha mente e minha alma ainda sofrem. Então corre-se atrás da forma perdida, e dos anos de verdadeiro sedentarismo. Até que um dia, minhas neuroses acabarão... ou diminuirão. Até que meu cabelo fique grande. Aí, a menina careca só vai restar nas fotos que minha mãe tirou.
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Esses episódios de se-achar-gorda-e-desajeitada podem durar um tempo. Nunca tinha experimentado esses dias de amargura antes de ficar careca. Parece que alí foi apertado um botão que acionou a oscilação de humor, o espelho deformado e toda a chateação que envolve isso. Ninguém gosta de se sentir mal com a aparência. Muito mesmo se tiver coisas muito mais importantes para se preocupar. O que se diz é que um paciente se torna de certa forma... ou quase literalmente assexuado, e que por esse e outros motivos não deveria se preocupar com coisas tão fúteis como... cabelo, sobrancelhas... ou um seio. Ouvi muitas histórias que me chocaram, não só pela gravidade dos temas mas pela frieza de alguns profissionais e até acompanhantes ao pormenorizar a preocupação do doente com a aparência. Claro que, entre ficar curado e ter cabelo, ficar curado. Mas não se pode negar que nem todos levam numa boa essa idéia. Ele/ela não vai escolher ficar sem cabelo... serão empurrados para isso, por que esse é um dos preços que se paga. Vi mulheres mutiladas e totalmente desencanadas. Uma chegou e perguntou se eu tinha tirado os meus seios também. Me senti despeitada. Mas essa preocupação com o "parecer" em algum momento pode abalar mais profundamente e se tornar um problema maior do que a própria origem do problema.
E acho que é isso que desencadeou coisas que sinto hoje ainda. Quando falo que ainda me vejo como a garota careca que não conseguia se olhar no espelho, não minto. De certa forma ela ainda existe e sinceramente é algo que quero muito superar. E acredito que isso acontece com muitas pessoas que passam pela mesma situação. Afinal, vai-se a doença mas ficam as lembranças, fotos e, querendo ou não, os traumas.
Aprendi a amar os cabelo curtinho, mas chegou o tempo de sentir falta de ter cabelo para cutucar. Então deixa de ser aparência apenas. Não falo apenas de ver o cabalo bonito no espelho, mas de pegar uma mechinha de cabelo, dizer que é sua. Deixar o namorado fazer cafuné sem se preocupar se seu cabelo vai cair aos montes. Ter. Olhar, sentir e dizer que é meu. Meu cabelo. Meu seio. Meu braço.
Entendi que essa fase pode causar danos terríveis. Ao corpo, à mente, à alma. Meu corpo está curado, mas minha mente e minha alma ainda sofrem. Então corre-se atrás da forma perdida, e dos anos de verdadeiro sedentarismo. Até que um dia, minhas neuroses acabarão... ou diminuirão. Até que meu cabelo fique grande. Aí, a menina careca só vai restar nas fotos que minha mãe tirou.
"Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar:" Eclesiastes 3.14a
Hugo, exposição das águas. |
Comentários
Ah, adorei teu lugarzinho Larissa! Lindas palavras e lindos versículos. Gostei muito muito!
Que Deus te continue te abençoando, te guiando e te dando muitas forças! Beijo beijo :* se cuida
O fôlego também me falta às vezes, mas não dou trégua, continuo firme. Acabei de chegar das TCs de controle, morrendo de fome, rsss.
O que importa é viver bem. A vida muda, a gente muda, mas a gente fica feliz.
Você ganhou um selinho. Instruções em http://encontrandodrhodgkin.blogspot.com/2011/04/linfoma-linfame-ganhei-um-selinho-uau.html
Abraços
Carin
Se vc concorda comigo passa um recado pra Lari!
bjx
Karla
fã do espremendoaaranha:)
meu msn é: kinho_judoca@hotmail.com
abraço e fika na paz