Normalidade







Chegados,

Visita memorável. Entrou pela porta aquela garota com um sorriso enorme. Era Anne. Tinha uma faixa colorida na cabeça e pedindo licença sentou do meu lado - Como você está? - Eu poderia ter respondido todas as coisas estranhas que o médico havia me dito. Palavras não aprendidas. Mas entendi o que ela quis dizer - Como VOCÊ está? Por trás desse rosto que não se permite molhar e nem demonstrar o sofrimento- Eu nunca havia conversado com alguém que tivesse a mesma doença. Depois percebi que involuntariamente criaram-se códigos silenciosos. Íntimos. Apenas para os que tivessem uma empatia, mesmo que forçada pela circunstância. E o pacto de silêncio é difícil de ser quebrado. Falar da doença, do mal, da mudança ainda é uma barreira enorme.
Não ter receios de falar sobre a cura não é para todos. Até falam olhando para o lado ou enquanto colocam a revista Caras da semana na mesinha do lado. Falar em cura olhando nos olhos e com tanta certeza que constrange. Talvez porque sabemos que nem todos estarão alí no próximo ano. Me lembro de uma vez ou outra perguntar por esse ou aquele paciente legal. E a resposta era baixinha. Como se não quisessem me contar - Dona Fulana partiu, Larissa -... - Quando?! Eu não fiquei sabendo de nada... - E isso havia acontecido no Natal, mas já era fevereiro. Então depois de passar por esse tipo de coisa algumas vezes parei de perguntar pelas pessoas.
Mesmo entre as salas de espera silenciosas sabemos que estamos alí lutando. Pela cura. Ou por uma vida mais normal.

...

Meio cansada e potencialmente radioativa, eu começo a semana que contará com o fim da minha radioterapia. Da mesma forma que veio no susto, vai embora sem que se conseguisse pensar muito na sua partida. Dessa vez não houveram adesivinhos para colar no espelho da cama e 18 sessões (e não 17 como havia dito antes) não inspiram bolos ou similares. Apenas a alegria imensa comum em terminar todas as etapas que passei nesses quase três anos após diagnóstico. Palavra feia. Diagnóstico.

...

Na minha loucura de exercícios e pseudo-dieta vejo que não é ilusão, melhorei muito suando, ou tentando suar naquela academia. Onde a maior concentração de egos inabaláveis põe no chão qualquer espelho que fale o contrário.
Mas mesmo depois de tanto empenho fica difícil levar isso tudo muito a sério quando a coisa que paulistano mais faz é sentar para comer... ou tomar um cafezinho aqui ou alí. Pizzas, fondues, hot dogs e qualquer coisa gostosa que sempre será recomendada como a melhor da categoria na região.
Mas aos poucos surgem coisas que realmente fazem você gostar do lugar, além dos amigos é claro... os intermináveis casais que tiram fotos no meio da Av. Paulista com as roupas do casamento, e cheios de tanta felicidade que não percebem o gritos e buzinas, a roda de capoeira na calçada da sexta às nove da noite, ou os incontáveis skatistas que caem nove vezes em dez tentativas e para o deleite dos estressados ainda fazem graça do joelho ralado.
Loucos que falam sobre nascer em planetas distantes e dançam sem nenhum constrangimento. Coisas que acontecem em vários lugares, mas que aqui aparecem concentradas e potencializadas.
Aos poucos a essência olindense é sugada e começa a fazer parte de disso tudo. Ai minha terrinha. Não tem igual.
Os coqueiros e as crianças correndo atrás da bola velha na rua com buracos incontáveis. Comendo os sacolés e trocando figurinhas na calçada.
Lá o céu é azul o tempo todo. Lá, o meu coração bate mais forte antes de aterrizar.

"Que darei ao Senhor por todos os benefício que me tem feito?" Salmos 116.12


Comentários

logo estará a bela Olinda... e come uma Tapioca por mim, na sé!


sempre te seguindo..

beijos, larri.
ah....
sobre a cura...
não a compreendi bem, talvez seja sobre a chances de cura de cada um.....

mas, acho realmente que cada um vive o medo e a doença de maneiras diferentes, embora os medos sejam sempre os mesmos.
Carin disse…
Humm... você abordou muitas coisas aqui... coisas que concordo e coisas que discordo.

Eu converso muito sobre a doença com outros pacientes, me informo, troco figurinhas, tanto virtual quanto pessoalmente. Isso me ajuda e ajuda os "coleguinhas" a enfrentar o que for preciso. Enfrentar significa conhecer a realidade, o que implica em insucessos e morte. Já perdi alguns amigos nessa guerra, apesar de sentir a dor da perda, não me deixo abater por causa disso, não deixo de incentivar a busca pela cura e não deixo de buscar a minha vida normal.

Falar em cura, a meu ver, é alimentar a esperança, incentivar nossas defesas, barrar o pessimismo que nos faz perder tempo e ânimo. E quando tudo ruiu na minha cabeça, encontrei forças justamente em amigos que passam por tratamentos e problemas semelhantes, como a Renata que escreveu aqui em cima.

Como uma boa paulistana, adoro a minha cidade e sua multiplicidade de faces. Mas a sua cidade também é linda, conheci rapidamente no ano passado, depois vou conhecer melhor.

Falando em nossas cidades, se quiser, podemos marcar algo para nos conhecermos, talvez juntar uma "oncoturma". O que acha?

É bom saber que você está bem!

Abraços
Anônimo disse…
I love Larinha,uma menina que estava destinada á ser minha filha torta,desde sempre, mas hoje ao escrever em um estilo neo Larissae, ainda botá meu presente de natal,feito por ela com o meu filho,me desmontou e as letras e frases estão molhadas de lágrimas de amor,alegria,dor de saudade e vontade de colocá minha menina no colo,é as vezes ela precisa e eu também,e dizer queestou roxa,troncha evesga de saudade da usa risada gostosa,do seu humor ácido mas pricipalmente do seu olhar puro e carinha de garota estilosa,descolada,enfim caqueana mas extremamente pura,como se houvesse acabado de sair da rua onça etivesse encontrado Felipe e tivesse dado uma passada em nossa casa,e não se engane sua alma Olindensse permanece em cada frase que escreves.Ainda bem que a radioterapia terminou e seguimos adiante com FÈ,e certazade bons dias em nossa terrinha,onde espero que em um domingo pos almoço de Dona Rosa possas brincar com primas, primos e irmãos na rua tão amada. O tempo de DEUS é diferente do nosso,então aguardemos firmes nas promessas do SENHOR,nesmo com um sorrriso nos lábios e os olhos marejados mas ELE entende tudo que se passa dentro de nós pois somos seus filhos,e fiflhas amadas. Fique na Paz do SENHOR minha irmã,te amo Ana CArolina mainha de pinho.
Frann Castro disse…
Oii Lari ;)

Acho importantíssimo se relacionar/conversar com quem passa pelas mesmas situações que você. De repente enxergando outro ponto de vista, nos ajude de alguma maneira.

Esses 21 dias que você ficou sem postar aqui, li bastaaante seus posts antigos.
Te admiro muito pela força, pela perseverança, pela fé. É isso que nos move para frente. Muuitas vezes não é fácil. Quanto mais ainda ter que esperar pelo incerto. Mas Deus sempre sabe aquilo que é melhor para nós, e se tivermos essa certeza sempre no coração, NADA pode nos abalar!

São Paulooo é uma cidade muito diferente né? Eu que sou do mesmo Estado, percebo a diferença de uma cidade pra outra. Adoro os barzinhos, as feirinhas, restaurantes. Adoro a mistura de cores nas roupas das pessoas. Tudoo que parece tão simples. Acho que você já deve ter escutado, e morar em São Paulo tbm não é tarefa fácil: 'Solitário como um Paulistano.'
Precisamos de mais Calor Humano, de Olhares de afeto.

Olinda, não conheço, mas conheci algumas pessoas de lá. Tudo o que é simples, tem mais valor, e lá sei que existe muito mais calor humano e afeto do que numa cidade onde todos correm contra o tempo e contra a si mesmos! ;)

Sua terrinha está te esperandooo. Logo logo estará por lá pra sentir o ar do nosso canto, do jeito que só nós sabemos, né?!

Fica com Deus querida!

Graande beijo no coração :*
Anônimo disse…
Lari,
Seria bom esclarecer a todos que lêem o seu Blog que apesar de ter muitas coisas gostosas aqui em Sampa, existe um segundo fator que somado a esse realmente põe qualquer dieta em risco: o apetite de Lari!
Um apetite tamanho que é capaz de após um bem servido filé a parmegiana, devorar uma lasanha de sobremesa...

Bjs

Gi
HEINO MEIRA disse…
J-untos
E-staremos
S-empre,
U-nidos e
S-almodiando

JESUS: NESTE NOME HÁ PODER

Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração.
Efésios 5:19

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