O calor, a bênção e a saudade
Quando era criança adorava andar de bicicleta. Subir as ladeiras sob o sol forte apenas para descer e sentir o vento por poucos segundos. Machucava minhas pernas quase todos os dias mas não deixava que isso impedisse o meu passeio. Saia pelas ruas do bairro onde mora minha avó Rosa, mesmo quando ela dizia que o sol estava forte e que eu tinha que esperar um tempo depois do almoço, eu esperava vinte minutos e saía pela rua apenas por sair. Por muito tempo carregava Toti, que depois de um tempo começou a ficar gordinho, o que exigiu mais esforço. Fugimos de alguns cachorros, levamos muitas quedas e comprávamos o pão no fim da tarde. Depois de um tempo a bicicleta começou a quebrar, o pneu entortava e o fim disso sempre era uma queda muito besta. Pegar jambo na casa de Dona Lindalva nunca foi um problema. Subíamos os cinco: Hugo, o irmão mais velho, eu - a magricela, mais conhecida como Esqueleto de Zé, apelido que nunca gostei-, minhas primas Alany, Aline e Ádla, os cinco e Heitor que quase sempre era café-com-leite, e na maioria das vezes entrava na brincadeira porque vó ameaçava acabar com tudo se ele ficasse de fora. Uns subiam na árvore e sacodiam o mais forte que podiam e os outros ficavam em baixo esperando as frutas caírem. Um dia Dona Lindalva morreu, era bem velhinha e falava meio devagar. A sua casa ficou vazia muito tempo, até que alguém comprasse. Durante incontáveis tardes, sentávamos na calçada e alí mesmo comíamos os jambos enormes. A tarde era quase sempre quente, mas a sombra na frente da casa de Dona Nena, sob a mangueira era o refúgio dos anjinhos. As brincadeiras eram por temporada. Se começávamos a andar de patins, seria assim durante semanas. Até aparecer uma coisa melhor. E foi assim com o queimado, com a pipa, com o peão, com WAR, banco imobiliário, com pega-pegou, pega-se-esconder (ou pique-esconde para outros) e outras milhares de brincadeiras. A gente não parava. Entre uma e outra brincadeira, um picolé pra ajudar a suportar o calor.
Uma vez, numa noite bem quente, Dona Rosa levou a gente pra frente de casa. Ela ainda não reclamava tanto da perna. Pegou uma cadeira e disse pra gente ficar perto dela na calçada - Mas Vó, o que é que a gente vai fazer lá fora? -
- Fica quieta. É só pra ver a rua. Olha o céu.
E assim a cultura de calçada foi passada para os netos. Num bairro que eu considero um bairro vovôs e vovós, é muito normal passar pelas ruas e ver muitos deles sentados em cadeiras de balanço.
Lá o tempo demora a passar. O céu fica mais limpo e se você esperar só um pouco pode ver vários cometas.
Às vezes eu ia ver as estrelas. Ou numa noite de lua cheia. Sempre tive um fixação por essas coisas. Olhar para o nada - Cadê Lari? ... Tá de novo lá fora...- E assim dizia que eu era estranha. Mas sempre de um jeito que fazia parecer que era legal - Lari, tu é a menina mais estranha que eu já vi - e sorria. Eu ficava sonhando e falando comigo mesma sobre o futuro, às vezes cantava bem baixinho, para apenas eu escutar. Isso piorou na adolescência. Quando as brincadeiras pararam. Não haviam mais patins ou pega-pegou. Agora era vestibular e um sono sem fim. Eu comia que nem uma louca, e sempre escutava vó dizer que gula é pecado.
Tomava a sopa que ela fazia todo dia. Com bastante pimenta - Menina, tu vai passar mal! - E de noite esperava meus pais voltarem do trabalho para voltarmos pra casa. Geralmente os três - eu, Hugo e Toti- voltávamos dormindo. Tchau vó! - Menina, pede a bênção! Que falta de educação! - Eu nunca pedi a bênção. Só para vô, quando ele mandava - Peça a bênção!
-Bênção vô!
-Deus te abençoe cabeça de boi - e sorria. A mesma frase toda vez. Acho que ele nunca levou a bênção a sério.
Hoje tenho saudade daquelas ruas. Do tempo das mangas e jambos, das ladeiras. Do céu laranja no fim da tarde.
Os vinhos cresceram, e como Dudu, o neto de Dona Lali falou : - A gente tá velho!-
A Rua Onça não tem mais crianças brincando e nem se escondendo atrás dos carros. A Rua Onça não tem mais pé-de-jambo e nem mangueira. A Rua Onça agora só tem a as histórias e a saudade.
...
Inegáveis dias de diversão nos últimos tempos. Horas de viagem no carro de Gilson (amigo super), da dupla Gitane e Gilson. Viagem que me fez superar quase que totalmente os meus traumas de ladeiras, curvas e alta velocidade. Traumas antigos que surgiram depois de uma acidente de ônibus que sofri em 1998. Pobre criança. Fomos a Lagoinha, Belo Horizonte, visitar a Igreja Batista da Lagoinha e em Barretos, na gravação do CD do Ministério Diante do Trono, belíssimo. E nesse tempo todo minha consciência sobre peso foi quase inexistente. Definitivamente São Paulo foi criado para engordar as pessoas - Venha ver os museus e engordar com a gente!
Aos poucos estou voltando a estudar. Ainda sinto o frio na barriga que nem no primeiro dia de aula na escola. Talvez seja o medo de me sentir ultrapassada ou qualquer coisa parecida.
Os planos antigos são revisados e outros surgem. A rotina do acompanhamento médico fica mais fácil porque a moça da portaria já sabe meu RG de cor. Amanhã faço mais uma tomografia, porque já se passaram 180 dias desde o transplante. Mas o que é uma tomografia a essa altura do campeonato?
"Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso." Tiago 5.11

A revanche do patins: dessa vez eu ganhei
Uma vez, numa noite bem quente, Dona Rosa levou a gente pra frente de casa. Ela ainda não reclamava tanto da perna. Pegou uma cadeira e disse pra gente ficar perto dela na calçada - Mas Vó, o que é que a gente vai fazer lá fora? -
- Fica quieta. É só pra ver a rua. Olha o céu.
E assim a cultura de calçada foi passada para os netos. Num bairro que eu considero um bairro vovôs e vovós, é muito normal passar pelas ruas e ver muitos deles sentados em cadeiras de balanço.
Lá o tempo demora a passar. O céu fica mais limpo e se você esperar só um pouco pode ver vários cometas.
Às vezes eu ia ver as estrelas. Ou numa noite de lua cheia. Sempre tive um fixação por essas coisas. Olhar para o nada - Cadê Lari? ... Tá de novo lá fora...- E assim dizia que eu era estranha. Mas sempre de um jeito que fazia parecer que era legal - Lari, tu é a menina mais estranha que eu já vi - e sorria. Eu ficava sonhando e falando comigo mesma sobre o futuro, às vezes cantava bem baixinho, para apenas eu escutar. Isso piorou na adolescência. Quando as brincadeiras pararam. Não haviam mais patins ou pega-pegou. Agora era vestibular e um sono sem fim. Eu comia que nem uma louca, e sempre escutava vó dizer que gula é pecado.
Tomava a sopa que ela fazia todo dia. Com bastante pimenta - Menina, tu vai passar mal! - E de noite esperava meus pais voltarem do trabalho para voltarmos pra casa. Geralmente os três - eu, Hugo e Toti- voltávamos dormindo. Tchau vó! - Menina, pede a bênção! Que falta de educação! - Eu nunca pedi a bênção. Só para vô, quando ele mandava - Peça a bênção!
-Bênção vô!
-Deus te abençoe cabeça de boi - e sorria. A mesma frase toda vez. Acho que ele nunca levou a bênção a sério.
Hoje tenho saudade daquelas ruas. Do tempo das mangas e jambos, das ladeiras. Do céu laranja no fim da tarde.
Os vinhos cresceram, e como Dudu, o neto de Dona Lali falou : - A gente tá velho!-
A Rua Onça não tem mais crianças brincando e nem se escondendo atrás dos carros. A Rua Onça não tem mais pé-de-jambo e nem mangueira. A Rua Onça agora só tem a as histórias e a saudade.
...
Inegáveis dias de diversão nos últimos tempos. Horas de viagem no carro de Gilson (amigo super), da dupla Gitane e Gilson. Viagem que me fez superar quase que totalmente os meus traumas de ladeiras, curvas e alta velocidade. Traumas antigos que surgiram depois de uma acidente de ônibus que sofri em 1998. Pobre criança. Fomos a Lagoinha, Belo Horizonte, visitar a Igreja Batista da Lagoinha e em Barretos, na gravação do CD do Ministério Diante do Trono, belíssimo. E nesse tempo todo minha consciência sobre peso foi quase inexistente. Definitivamente São Paulo foi criado para engordar as pessoas - Venha ver os museus e engordar com a gente!
Aos poucos estou voltando a estudar. Ainda sinto o frio na barriga que nem no primeiro dia de aula na escola. Talvez seja o medo de me sentir ultrapassada ou qualquer coisa parecida.
Os planos antigos são revisados e outros surgem. A rotina do acompanhamento médico fica mais fácil porque a moça da portaria já sabe meu RG de cor. Amanhã faço mais uma tomografia, porque já se passaram 180 dias desde o transplante. Mas o que é uma tomografia a essa altura do campeonato?
"Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso." Tiago 5.11
A revanche do patins: dessa vez eu ganhei
Comentários
beijos lari
20 dias =D
Que sua beleza, sua alegria, sua força e, sobretudo sua fé, continuem se renovando a cada manhã, como as misericórdias do Senhor...
"Seja a tua misericórdia, SENHOR, sobre nós, como em ti esperamos" (Sl 33.22)
Somos um só coração com você, agora e sempre.
Abraço com todo amor,
Tia Katia
E-squeçamos da
S-ua
U-nção
S-ingular
Se por acaso aconteceu, a bíblia não relata casos de que alguém tenha ido até Jesus e não tenha sido curado. Eu não creio que Ele esteja de ouvidos fechados que não nos ouça, talvez Ele não nos tenha ouvido ainda por que ainda estamos muito longe e precisemos chegar mais perto. Proponho a todos que lerem esta mensagem e pedem pela cura de Larissa que cheguemos mais perto e recebamos a sua UNÇÃO.
"O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã."
TE AMO!!!!!
Salmos 30:5b
O grande poder de Deus, manifestado em seu Filho capacita-nos a esperar por sua intervenção em qualquer situação da nossa vida. Foi assim na história da Igreja primitiva e será por toda eternidade. O pensamento de que Deus não nos atendeu por que Ele não quiz é de origem duvidosa e incerta e deve ser banido da nossa mente. Tenho fé, fé, fé, fé, fé, fé, fé, fé, fé, que o Senhor nosso Deus honrará a Sua Palavra.
O-rar
D-eus
E-stá
R-espondendo
Sendo os caminhos do homem agradáveis ao SENHOR, até a seus inimigos faz que tenham paz com ele.
Provérbios 16:7
Problemas de qualquer natureza sobre os quais não temos controle, na maioria da vezes nos tiram os sono e a nossa mente fica a "mil" por hora. Isso acontece com qualquer um, mas o que fazer? "Devagarinho" podemos "divagar" aspirando o ar nos pulmões com por exemplo um "glória" e concomitantemente expirando com outro "glória". Funciona melhor do qualquer psicotrópico. Glória, glória, glória, glória, glória, glória,glória a Deus.
"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai."
O apóstolo Paulo em Filipenses 4:8
Conheci teu blog hoje, achei maravilhoso. Vc escreve muito bem, e nessa fase toda isso é muito importante! Estou entrando em 'trabalho' agora, já fiz 2 cirurgias antes, mas acabei de ter meu nobo diagnóstico e muito apreensiva! Mas, firme e forte vamos à luta não é? Precisando de qualquer coisa, um HELP ai, no que eu puder, vou ajudar, nem que seja pra mandar alguma musiquinha ou sei la, mas estarei sempre por aqui lendo seus textos. Eles me motivam e vc é uma mulher de coragem! Beeijos. Fica com Deus!
A mulher propôs em seu coração que bastaria tocar nas vestes do Filho de Deus que sua enfermidade sararia. Na condição de anonimato, ela cobriu o rosto para que ninguém a reconhecesse e partiu em direção ao mestre - ninguém me reconhecerá, pensou ela, a multidão o sufoca, nem Ele notará, Ele não precisa nem olhar em meu rosto, basta tocar em suas vestes e ela foi e o tocou. Disse Jesus: de mim fluiu poder e Eu gostaria de saber quem foi que me tocou, alguém poderia me dizer? A mulher que havia doze anos gastara tudo em busca de uma cura, trêmula ajoelhou-se ante Ele e disse: fui eu Senhor e estou curada.
Lucas 8: 43-48
Ele abre sempre uma porta onde não há saída, e o impossível faz acontecer..."
Bjs
Gi